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sábado, 9 de novembro de 2019

Marielle Franco: caso de polícia



Dias após o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, considerar a federalização do processo que apura o assassinato da vereadora do Rio, Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes, os familiares da vereadora divulgaram nota em sentido contrário, para que o ministro Moro não participe do processo e das investigações do crime. (Vereadora Marielle eleita c/ 46 mil votos.)

Desde o início, por aparentar ser um crime de motivação política, o presidente Temer dispôs, através do ministro da Justiça Raul Jungmann, os órgãos federais de investigação, para auxiliar no que fosse necessário. Por motivos desconhecidos não foi efetivada.

Considerando que é o desejo de todos que as investigações sejam concluídas o mais rápido possível, os argumentos citados para que a PF não participe do processo são inusitados e contraditórios. Parece haver interesse ou temor de que as investigações revelem verdades sobre o poderoso grupo de milícia e crime organizado, que domina as instituições da governança no Rio. Também é visível a estratégia que de chamar atenção ao motivo pendente no Supremo, de que o ministro não teria isenção, com pedido de suspeição de Moro no caso do triplex do Guarujá, além do julgamento de Lula quanto ao sítio de Atibaia, pronto para sentença em primeira instância. 

Em tudo, é contraditório o fato dos familiares de Marielle, com um forte direcionamento político embutido, queiram afastar os órgãos de investigação do Ministério da Justiça e Segurança Pública, com áreas de reconhecida excelência policial, criminal e judicial, nos seus inúmeros aspectos. 

Como se fosse possível aos familiares e amigo, escolherem qual órgão assumirá a responsabilidade pela investigação e elucidação de um crime. São coisas que só o mundo criado por milicianos é capaz de promover: uma polícia cativa para chamar de sua. (Anderson Gomes c/ familiar e Marielle.)

A demora de 19 meses para comprovar um detalhe importante do inquérito -  quem autorizou a entrada de Queiroz no Condomínio e, ao mesmo tempo concluir pela falsidade da duas declarações e as anotações do porteiro, são os bônus pagos pela escolha preferencial - que a nota pretende seja exclusiva - da Polícia Civil do Rio de Janeiro nas investigações. (Marielle participando de manifestação.)
Salta às vistas que, além dos familiares, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), seja também assinante da estranha nota, onde afirmam que o ministro Moro sempre demonstrou pouco interesse pelas investigações do crime. "Somente após a menção ao presidente da República no inquérito, o ministro passou a declarar-se a favor da federalização." 

Fica claro que a PF só será envolvida se houver citação de alguém do executivo federal. Caso contrário permanece no âmbito policial municipal, estadual. E aqui surge mais uma canalhice dos emitentes da nota, ao insinuar que o súbito interesse de Moro vise uma possível futura manipulação, no caso de haver algum indício de prova contra o presidente.

E a nota acrescenta: "O MPF do Rio obteve avanços importantes, e por isso somos favoráveis a que a instituição permaneça responsável pela elucidação do caso." Sei...
É mais uma demonstração do desconhecimento do ministro Sérgio Moro fará no caso da federalização do processo. O MPF vai continuar participando e os procuradores fazendo seu trabalho. A ação de Moro será através da Polícia Federal, órgãos de inteligência e de Segurança Pública, em cooperação com os diversos ministérios, tais como: o da Economia, da Defesa, da Cidadania, Relações Exteriores (assassinato de um embaixador grego, que pode ter ligação com as quadrilhas de milicianos instaladas nas governanças do Rio. (Foto da perícia balística)


É revelador que a nota deixe de mencionar o trabalho da Polícia Civil. Não é feita qualquer referência nem elogios à Polícia Civil do Rio de Janeiro, principal responsável pelas investigações e que vem tumultuando o processo, promovendo confusões, plantando testemunhos, acusações falsas, insinuações e suspeições, com o claro propósito de atrapalhar as investigações e retardar a conclusão do processo, a ponto da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, requerer a federalização do processo e abrir inquérito para investigar delegados envolvidos. (Foto da perícia no dia do crime)
No último dia no cargo de procuradora-geral, Dodge apresentou denúncia contra vários investigados no assassinato de Marielle e Anderson, os principais: foram: um conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Domingos Inácio Brazão; um agente aposentado da Polícia Federal, Gilberto Ribeiro Costa; um policial militar do Rio, Rodrigo Jorge Ferreira; a advogada Camila Moreira Lima Nogueira; um delegado da Polícia Federal, Hélio Khristian Cunha de Almeida... Essa apresentação ao findar o mandato, pareceu ser uma estratégia de Dodge, para evitar maledicências no caso de ser escolhida para se manter no cargo, do tipo, "Ah, ela faz qualquer coisa para ser a escolhida!", semelhante ao feito hoje com Moro, como, "Ele prendeu Lulaláu e os chefes petistas para ganhar cargo no governo Bolsonaro."


O mais estranho nisso é que o ministro Moro, no caso de federalização, não atuaria na área judicial do MPF e sim na área policial civil, através da Polícia Federal. 
Desde o início das investigações, a oposição fez insinuações pelo fato do PM preso, Ronnie Lessa, acusado de ser chefe de milícia e principal suspeito da morte, de ser o atirador que matou Marielle, morar a 50 metros no mesmo condomínio do então candidato a presidente da República Jair Bolsonaro. 

Os contra Bolsonaro, tentaram demostrar que eles tinha um relacionamento familiar mais próximo, divulgando que o filho do Bolsonaro tinha namorado com uma filha do chefe da milícia preso. Não colou, Jair disse que seu filho namorou quase todas as meninas do condomínio. 
Nesses 19 meses do crime, a Polícia Civil do Rio de Janeiro tem dado mostras de, digamos, estranha incompetência desastrosa nas apurações. 
Para solucionar rapidamente o crime, foram criadas versões, que se revelaram inconsistentes. 
Uma dela foi depoimento de testemunha que teria ouvido que o vereador Marcello Siciliano (PHS) e o ex-PM Orlando Araújo, que está preso, tramaram a morte de Marielle. A motivação, que seria a interferência das ações comunitárias de Marielle nas áreas de interesse da milícia conhecida como "Escritório do crime", na Zona Oeste do Rio... Essa versão também não colou.

Uma outra versão, obteve recente revelação das investigações obliteradas: foi o depoimento do porteiro do Condomínio Vivendas da Barra, onde mora Bolsonaro e o principal suspeito, Ronnie Lessa (a esquerda), confirmando em dois depoimentos que ligou e falou com "Seu Jair" para autorizar a entrada do ex-sargento da PM, Élcio Queiroz (à direita), acusado de ser o motorista que dirigiu o carro para o atirador, na tarde do assassinato de Marielle. 
Foi esse depoimento do porteiro e as anotações da entrada em caderno, que levaram o MPF a consultar o presidente o STF, Dias Toffoli, visto envolver foro privilegiado na pessoa do presidente. 
Essa farsa armada durante meses pela Polícia Civil do Rio de Janeiro foi desmascarada em menos de 24 horas, após o Jornal Nacional da TV Globo editar as notícias de forma a insinuar o envolvimento do presidente Bolsonaro no assassinato de Marielle, mesmo já sabendo que o porteiro mentira nos dois depoimentos. 
Em tempo: o apresentador do Jornal Nacional da TV Globo, William Bonner (foto), concorre com disparada vantagem ao troféu "Me Engana Que Eu Gosto" concedido às mais enjambradas edições de fakes news, realizados no Brasil e no mundo.


No dia seguinte da apresentação vergonhosa do Jornal Nacional, utilizando técnicas de difamação típicas da chamada imprensa marrom, o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, apresentou o arquivo de áudio das conversas entre a portaria e as casas do condomínio, onde confirma que quem atende a chamada e autoriza a entrada de Élcio Queiroz, é Ronnie Lessa. Ele fez em um dia o que a Polícia Civil do Rio de Janeiro não conseguiu fazer em mais de ano e meio!
É surpreendente que a Polícia Civil, após 19 meses do crime, ainda insista propagar a versão do porteiro tendo, aparentemente, descartado as gravações de segurança do Condomínio que elucidaram a questão, desmentiram a versão do porteiro e comprovaram o encontro entre Lessa e Queiroz, horas antes do crime. 


Indignado, o presidente Bolsonaro acusou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel do Partido Social Cristão (PSC), advogado e ex-juiz federal, de ter acesso indevido ao processo sigiloso das mortes de Marielle e Anderson, a ponto de dar posição num jantar em Brasília: 
Wilson Witzel - Ah, o processo está no Supremo. 
Jair Bolsonaro - Que processo? 
WW - O processo da Marielle. 
JB - O que eu tenho a ver com isso? 
WW - Ah, o porteiro declarou que por volta das 17 h de 14 de março do ano passado, um dos possíveis executores de Marielle se encontrou com outro suspeito no Condomínio, mas teria pedido e sido autorizado por Seu Jair, para ir até a sua casa!... 
E Bolsonaro continuou descrevendo o encontro inusitado: "Eu fiquei surpreso. Primeiro porque o governador não tinha que ter acesso ao processo. E ele não posou de bonzinho comigo, não. Ele já sabia que muita coisa estava vazando, já que é perseguição dele contra a minha família. Ele tem usado a máquina pública para me perseguir", visando as eleições à presidência em 2022. 


O governador Witzel nega fazer perseguição a Bolsonaro. Mas ao ser questionado por jornalistas se houve ou não o diálogo descrito por Bolsonaro​ ​desconversou, tergiversou e ​desafiou dramaticamente alguém provar que ele teve acesso ao processo e que faz campanha de perseguição a Bolsonaro... Sei. Entretanto, ​ele não desmentiu​ o presidente​, nem respondeu o questionamento objetivo e direto dos repórteres, se houve o diálogo relatado por Bolsonaro.


Num balanço parcial do imbróglio, temos exemplo que a Polícia Federal, os órgãos de segurança e ministérios do governo Bolsonaro, chegaram em 60 dias na identificação do navio petroleiro grego Bouboulina, como o responsável pelo derramamento de óleo cru venezuelano em águas internacionais a cerca de 700 km da costa, em latitude da fronteira de Alagoas e Sergipe. Também foi esclarecido em menos de sete dias, o mistério da foto com o tema da redação do ENEM, veiculada logo após o início das provas. Por que não usar a estrutura investigativa do governo federal? Qual o real motivo da dispensa? (Sérgio Moro, conduz o Ministério da Justiça e Segurança Pública.)
Enquanto isso, temos outro exemplo cabal de incompetência e/ou morosidade sistêmica: após 19 meses do crime, a Polícia Civil do Rio de Janeiro, ainda não havia tido acesso aos arquivos de áudio da portaria do Condomínio Vivendas da Barra, nem provas consistentes de que a entrada do suspeito (Queiroz) não foi autorizado pelo Seu Jair e sim por Lessa. 

Insistir que as investigações sejam realizadas somente pela Polícia Civil do Rio de Janeiro é, no mínimo, compartilhar da estranha e morosa incompetência, e ficar sem os resultados desejados em qualquer investigação de um crime: coletar provas, comprovar autoria, identificação dos mandantes, dos executantes e, um item fundamental do qual, até agora, não se tem qualquer pista: quais as motivações levaram ao assassinato de Marielle? (Registro de Marielle no último evento na noite do crime.)

É aí que que o atual deputado federal Marcelo Freixos (PSOL/RJ), vereador na época do crime, considerado parceiro de Marielle seu principal herdeiro eleitoral, pode ter acumulado uma cambulhada de motivações e suspeitas, que precisam ser consideradas, para que tenhamos finalmente a conclusão do processo, com as respostas a todas as perguntas e dúvidas... Sem cair no temido poço do esquecimento, destino de muitos crimes e investigações transformados em outros crimes: falsidade ideológica - conhecida também como mentira - , fraude e obstrução da Justiça. 
Dois dos principais casos puxam uma extensa lista: Quem mandou matar Celso Daniel? Quem mandou matar Jair Bolsonaro?
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Como dado histórico, há três casos em que as investigações foram federalizadas. Todas chegaram a bom termo: 

Assassinato de ex-vereador na Paraíba - PGR pediu federalização do processo sobre a morte do advogado Manoel Mattos, morto em janeiro de 2009 na praia de Acaú, em Pitimbú (PB). As investigações apontaram que o homicídio foi motivado pela atuação de Mattos, que integrava a comissão de direitos humanos da OAB-PE, contra grupos de extermínio que agiam na divisa de Paraíba e Pernambuco. O STJ reconheceu a incapacidade das autoridades locais de chegar a uma conclusão. Pedido feito em junho de 2009 e atendido em outubro de 2010. A Justiça Federal condenou acusados em 2015.
Morte de promotor de Pernambuco - PGR pediu o envio para a Justiça Federal da apuração sobre a morte do promotor estadual Thiago Faria Soares, morto em 2013. Havia indícios de que o assassinato resultou de ação de grupos de extermínio que agiam no interior do estado. A Terceira Seção do STJ considerou que a falta de entendimento entre a Polícia Civil e o Ministério Público estadual "ensejou um conjunto de falhas na investigação" e comprometeu a verificação dos mandantes. Pedido feito em maio de 2014 e atendido em outubro de 2014. A Justiça Federal condenou um homem como mandante do crime em 2016.
Grupos de extermínio em Goiás - PGR pediu federalização dos procedimentos administrativos ou judiciais de investigação, inquéritos policiais ou ações penais relacionados a violência policial e atuação de grupos de extermínio no Estado de Goiás desde 2000. O pedido foi feito em maio de 2013 e atendido em dezembro de 2014. Dez pessoas foram condenadas recentemente pela Justiça Federal, mas há diversos processos em andamento.
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