Viver parece um jogo.
Alguns acham-no sem sentido. Outros só jogam para ganhar e se frustram quando
perdem alguma partida. Muitos jogam por puro prazer. É um jogo que se aprende
jogando, apesar de vários livros descreverem algumas jogadas
interessantes ou terríveis.
O campo ou tabuleiro desse jogo
parece ser o universo. Há manuais que ensinam a estrutura básica do jogo,
seus primeiros movimentos, o movimento de cada peça e seus
limites. Em geral há livros com jogadas célebres de partidas realizadas na
história da humanidade, em que um dos jogadores fica acuado sob ataque, grave
ameaça ou em xeque, tipo: "Corte a criança ao meio e dê uma parte a cada
mulher". Ou descrevem movimentos sutis, mas decisivos para permitir a
reversão do desenvolvimento da partida, como: "Caminhou até o mar seguido
pela multidão, abaixou-se na praia e trouxe nas mãos um punhado de
sal... E todo o povo fez o mesmo iniciando, nesse movimento, a libertação
da Índia do domínio do Império Britânico".
Alguns demonstram claramente que
ganhar ou perder não é o mais importante. Para eles a essência do jogo é
jogar. Vibram e se emocionam ao jogar com disposição e alegria. E o
jogo fica melhor quando há empenho, cuidado e atenção, de modo a antecipar
movimentos, perceber armadilhas, refletir e analisar situações complexas,
sem se deixar dominar pela ansiedade. Isso não impede a alguns, que mal
aprenderam a mover as peças, já se considerarem exímios jogadores.
O início do jogo é previsível e
os livros ensinam as aberturas mais eficazes. Aconselham os especialistas
que após os movimentos iniciais, as peças precisam estar bem localizadas e
protegidas. A partir daí as possibilidades de jogada se ampliam enormemente.
Parecem infinitas. As decisões devem sempre ser tomada com o mínimo
de cuidado e destemor.
Uma dúvida constante que
atormenta os jogadores é "com quem, contra quem, o quê
jogamos?". Há quem diga que joga contra o Destino, adversário difícil, por
determinar de antemão as jogadas de todas as partidas. Muitos acham isso
muito chato. Os mais dramáticos afirmam que jogam contra a Morte, trapaceira, pois sempre ganha no final. Têm aqueles, porém, que acreditam estar
jogando com o Acaso. Mas ainda existem muitas dúvidas.
Há os que acreditam que
estão aprendendo a jogar com um parceiro que deseja lhe mostrar, por todos os
meios, que todos os movimentos realizados a cada partida conspiram para a
vitória. Mesmo nas maiores dificuldades esse mestre-parceiro consegue
apontar belas lições, a aprender e a memorizar. Não podemos esquecer os que, num jogo tristonho, identificaram o adversário: a Adversidade.
Às vezes, alguns parecem jogar
consigo mesmo inúmeras partidas desse constante aprendizado. Talvez, seja esse
o parceiro que apresenta o jogo mais difícil que alguns descobrem
ser preciso jogar. Analisam e decidem a estratégia e movimentam com
as peças de um lado do tabuleiro. Após isso, passam a estudar a jogada a partir
do lado oposto. Parecem aprendizes de filósofos.
Há os que, em algumas partidas,
desistem do jogo. Tem os que preferem assistir o jogo dos outros e preferem
apenas opinar, seja através da TV ou do rádio, sabendo que ninguém
os ouve.
Tento entender como estou nesse jogo. Perceber com quem, contra quem jogo. Adversários, equipes, parceiros? Há regras, quais são elas? Se não, salve-se quem puder! Enfim, vou aprendendo a viver. Acho que estou viciado!
Bom jogo a todos!
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