A morte no Rio Doce |
Foram destruídas 158 casas das 180 do vilarejo. A lama de resíduos invadiu cerca de 100 quilômetros a jusante, matou peixes, aves, atingiu manguezais e envenenou as águas límpidas do Rio Doce, principal manancial na região.
O prefeito de Mariana, Duarte Júnior, disse que a lama alcançou cinco distritos no estado de Minas Gerais: Águas Claras, Ponte do Grama, Bento Rodrigues, Paracatu e Pedras e mais de 40 cidades e vilarejos foram atingidos pelo desastre. A cidade de Barra Longa, a 70 km de Bento Rodrigues, também foi alcançada pela lama.
A grande fluidez dos resíduos é sintomática |
Cerca de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração atingiram o Rio do Carmo, que depois se encontra com o Piranga, formando o Rio Doce – um dos maiores rios do estado de Minas, que passa em Linhares, no litoral do Espírito Santo e deságua no oceano Atlântico. Além de Linhares mais duas cidades do Espírito Santo também foram atingidas pelo desastre: Guandu, Colatina. Foram suspensas toda captação de água do Rio Doce para uso e consumo de humanos, pecuária, animais e lavoura.
Rastro de lama sobre grande área da região |
Este é maior desastre ecológico no Brasil, preparado pela displicência criminosa dos responsáveis pela Barragem do Fundão, na zona rural do distrito de Bento Rodrigues, a 23 km da cidade de Mariana-MG.
E mesmo após 90 dias continua gerando declarações inusitadas das empresas controladoras - a brasileiras Samarco, controlada pela Vale do Rio Doce e a anglo-australiana BHP - do governo de Minas Gerais e do governo federal.
E mesmo após 90 dias continua gerando declarações inusitadas das empresas controladoras - a brasileiras Samarco, controlada pela Vale do Rio Doce e a anglo-australiana BHP - do governo de Minas Gerais e do governo federal.
Grande extensão coberta com resíduos |
O diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, disse logo após o desastre que as barragens tinham sido vistoriadas por autoridades ambientais em julho de 2015, e os laudos foram emitidos em setembro. A Polícia Militar de Meio Ambiente informou também que a mineradora foi fiscalizada há dois anos e nenhum problema foi encontrado na barragem.
O engenheiro civil Germano Silva Lopes, que coordena o plano de ações emergenciais na Samarco, disse que por volta das 14 horas de quinta-feira, dia 5.11.15 foi sentido um tremor de terra e que, imediatamente, uma equipe verificou a barragem de Fundão. Segundo ele, na ocasião não foi registrado qualquer problema. Depois de algum tempo, começou a ruptura das estruturas da barragem. Não especificou quanto tempo se passou entre o tremor e a constatação do rompimento.
Foto comprova a fluidez excessiva dos resíduos |
Após 90 dias, a polícia federal executou mandado de busca e apreensão nos escritórios e instalações das empresas envolvidas, na tentativa de obter provas de que a Samarco tinha conhecimento dos riscos de ruptura da barragem e sustente a acusação de assassinato, proposta pelo Ministério Público.
E acredite se quiser, até agora não se chegou à causa que provocou o rompimento da barragem de Fundão. Alguns momentos antes de jorrar lama através da barragem, houve um tremor e um ruído forte. Os operadores foram olhar a barragem mas, de acordo com depoimentos, ela se mantinha intacta.
Contraste do lamaçal com o verde da área |
Há informações de que as inspeções nos piezômetros instalados na barragem para monitoramento eram feitas diariamente. Relatórios registram que alguns deles já indicavam liquefação dos resíduos acima dos limites de segurança e que alguns piezômetros, instalados em posições criticas, tinham sido removidos "para manutenção". Isso pode indicar que a manutenção foi feita para aferir o aparelho e confirmar se seu registro acima do permitido era verdadeiro ou se isso ocorria por algum erro na calibração dos instrumentos.
O jorro dos resíduos é semelhante ao de água. |
Era esse o panorama após um longo período de estiagem naquela área. Há também informações de que a barragem estava recebendo mais resíduos liquefeitos por necessidade de maior produção, visando reduzir as perdas econômicas devido a queda de preço dos commodities no mercado internacional. Esse excesso de água nos resíduos é constatada nas imagens do jato dos resíduos após rompimento: é semelhante a água.
Ao longo desses 90 dias, muito se tem discutido e pouco se tem feito para esclarecer as causas do rompimento, as responsabilidades das empresas, o atendimento aos moradores de Bento Rodrigues e dos afetados pelo desastre. Muito provável que os estraves criados pelas empresas responsáveis vise adiar essas definições. Pelo menos até que os próximos desastres e escândalos levem o de Mariana ao esquecimento.
A biodiversidade do rio foi atingida de morte |
Um vazamento foi detectado em dezembro e permaneceu por muito mais tempo do que desejaríamos. As intervenções para reforçar a barragem parece ocorrer em marcha lenta. De acordo com o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), órgão responsável pela fiscalização de barragens de rejeitos, a barragem de Fundão é considerada de baixo risco, e o rejeito de minério, inofensivo para a saude.
Não foi isso que ficou comprovado na morte do Rio Doce e de 13 pessoas. Nem água cristalina cobrindo a terra, seus habitantes, vegetação e fauna é inofensiva à saude e ao ambiente. Imagine lama de resíduo de mineração cobrindo áreas enormes e contaminando rios?
Imagem da desolação |
A barragem de Santarém estava no limite da sua capacidade: 7 milhões de metros cúbicos. A de Fundão estava com 55 milhões de metros cúbicos, dos 60 milhões de sua capacidade total. No dia do desastre, a Samarco informou que a barragem de Santarém também havia rompido! Parece que já era algo esperado. Segundo o diretor-presidente da Samarco, as operações da mina de Germano estão completamente suspensas, onde ficava a barragem de Fundão. Só lá?
Um novo rompimento ocorreu na barragem de Fundão há cerca de 15 dias.
A "culpa" desse novo "acidente" foi imputada às chuvas que têm caído na região desde o início do ano de 2016. A própria Samarco já previa novos rompimentos.
A "culpa" desse novo "acidente" foi imputada às chuvas que têm caído na região desde o início do ano de 2016. A própria Samarco já previa novos rompimentos.
Instantâneo de morador ante o desastre |
E assim, ficam os habitantes e a biodiversidade da área sob ameaça de novos rompimentos.
É permitido considerar que inúmeras barragens existentes em Minas e no Brasil, estão descuidadas do mesmo jeito que as da Samarco, tanto pelas empresas como pelos órgãos responsáveis pela fiscalização e pelo cumprimento das normas mínimas estabelecidas para garantir a segurança das barragens.
Por ganância e estupidez estão pondo em risco milhares de vidas humanas, milhões de vidas animais e vegetais existentes em milhares de quilômetros quadrados. As punições devem ser exemplares, de modo a ensinar que é mais econômico gastar com a segurança do que pagar pela destruição causada por falta de implantação das medidas eficazes de segurança.
É difícil a dissolução da lama nas águas do mar |
O pássaro sobre o rio de lama |
A lama deixa um longo rastro de morte |
... e o Rio Doce virou um lamaçal |
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Campanha da Fraternidade 2016
Tema: Planeta Terra: casa comum, nossa responsabilidade (Amós 5,24)
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Lema: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”. (Amós 5,24)
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