Evitando citar nomes durante café da manhã com os jornalistas, a presidente Dilma, referindo-se às denúncias feitas pela ex-diretora Venina Velosa da Fonseca, afirma que quem denuncia tem que apresentar as provas. Reitera que não se pode denunciar sem apresentar provas.
A presidente da Petrobras, Graça Foster, confirmou que recebeu os e-mails da ex-diretora, alertando ter observado irregularidades na área de contratos. Entretanto, declarou que não os considerou suficientemente explícitos para chamá-la e pedir maiores esclarecimentos. Em vez disso, passou as informações dos e-mails pessoalmente ao diretor Paulo Roberto Costa, a quem Venina era subordinada.
Quanto às auditorias internas, que nada encontraram de irregular na compra da Refinaria de Pasadena, no Texas, Graça esclareceu ao jornalista que a Empresa não usa recursos de escutas telefônicas, quebra de sigilo bancário, telefônico e fiscal, oitivas de pessoal de fora da empresa nem mandados de busca e apreensão que o Ministério Público, Justiça e Polícia Federal utilizam em suas investigações. Isso pode ter feito a diferença entre o que a empresa concluiu e o que hoje é de conhecimento de todos. Mesmo assim, Dilma exige provas desde a denúncia.
Aos empregados, Graça Foster orienta a levar as suspeitas e denúncias aos órgãos de auditoria da própria empresa e não ao Ministério Público, como fez Venina, após não obter resposta aos alertas emitidos.
Venina, apresentou cópias dos e-mails com alertas enviados aos superiores, pares, órgãos de auditagem e até ao presidente da Empresa na época, José Sérgio Gabrielli, que já declarou não ter recebido qualquer alerta dela.
Vale ressaltar, que somente na diretoria de Comunicação da Petrobras, a denúncia de irregularidades apresentada por Venina surtiu efeito. Ali foi feita auditagem que apurou desvios de R$ 58 milhões, pagos por serviços contratados que não haviam sido executados.
Após esse acerto, a denunciante foi monitorada ostensivamente, ameaçada e isolada. Segundo entrevista à repórter Glória Maria no Fantástico, seu superior imediato, diretor Paulo Roberto Costa, a alertou quanto ao alcance de suas denúncias. Apontou a foto do presidente Lula na parede e disse: "Você está querendo derrubar todo mundo? Tem muita gente grande envolvida nisso!".
Afinal, a quem confiar uma denúncia ou suspeita de irregularidade, quando os chefes e diretores integram o esquema e usufruem dessas irregularidades? Após a divulgação em todos os meios de comunicação da exposição verbal detalhada do esquema de corrupção montado na Petrobras pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa com empreiteiras e partidos políticos, a presidente Graça Foster, anunciou a transformação da diretoria internacional em diretoria de acompanhamento, fiscalização, garantia do cumprimento das normas e procedimentos da empresa. Adiantou que será uma diretoria para estar totalmente voltada para o cumprimento das normas legais e procedimentos éticos, com o objetivo de evitar que casos como esses do petrolão voltem a ocorrer.
Parece-me que a inclusão de um diretor entre a presidência e o órgão fiscalizador-apurador de irregularidades, permitirá que a presidência tenha mais chance de se eximir da responsabilidade dos problemas não detetados ou não apurados devidamente. A responsabilidade recairá com maior ênfase sobre o diretor dessa futura diretoria, ficando a presidência livre, leve e solta para declarações de que "não sabia de nada", "nem imaginava algo assim", "fui traído(a)", "fui apunhalado(a) pelas costas" e outras do mesmo gênero de desculpa esfarrapada, que só têm fácil acolhida nos órgãos fiscalizadores, no Congresso e no Judiciário brasileiro.
Esse tipo de diretoria, a depender dos poderosos da hora, poderá fiscalizar, orientar, investigar e punir os empregados da empresa, responsáveis pelas contratações irregulares ou, como é fácil prever, poderá coordenar um esquema de corrupção institucionalizado, de modo que tudo pareça ter sido feito dentro da legalidade.
É só esperar para ver.
......................................................* Esse texto foi publicado de modo resumido no jornal A TARDE de 28.12.2014, na coluna Espaço do Leitor, sob esse mesmo título original.
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