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domingo, 14 de dezembro de 2014

Os bem-aventurados

A  coluna Tempo Presente do jornal A TARDE de 13.12.14, deu destaque à frase que Pedro Simon pronunciou no discurso de despedida do Senado, declarando como "bem-aventurados" o ex-ministro Joaquim Barbosa, o juiz Sergio Moro e todos aqueles que gritam e lutam contra a corrupção e contra a impunidade.

No editorial Corrupção desafiadora, nessa mesma data, A TARDE expôs o desânimo, desconforto e reclamos de consciência que o ministro Jorge Hage sofreu, até desistir de lutar contra a corrupção. Guiado pelo bom senso, "auto demitiu-se" da chefia da Corregedoria Geral da União - CGU, onde operou durante nove anos. 
Alertou que quem recebeu propinas após janeiro de 2014, já pode ser punido pela lei anticorrupção! E os 39* réus indiciados pelo juiz Sérgio Moro na Operação Lava-Jato - o petrolão - que receberam ou pagaram propinas antes dessa data? Legalidades dispersivas que fazem a festa dos advogados de defesa.

Em julho de 2007, a revista VEJA considerou Pedro Simon um dos  "mosqueteiros" da Comissão de Ética do Senado, juntamente com parlamentares íntegros e combativos, como Fernando Gabeira, Jarbas Vasconcelos, Jefferson Peres e o até então o tido como incorruptível e impoluto, senador Demóstenes Torres.  
Após décadas de vida pública, Pedro Simon (PMDB/RS) e Eduardo Suplicy (PT/SP), não se reelegeram, mas desfrutaram por muito tempo no Congresso da Nova República, belos discursos e uma agradável convivência com seus diletos pares. 
Sobre a saída de Jorge Hage, disparou: "Foi uma bofetada. Há um mês ele vinha pedindo uma audiência com a presidente para relatar coisas gravíssimas que vinham acontecendo e precisavam de providências. Ela nunca se dignou a recebê-lo. Ele, então, escreveu a carta de demissão e mandou tudo para o inferno".
Como se vê, declarações contundentes são próprias de seu estilo, sem entretanto, provocar mudanças efetivas no "balcão de troca, chantagem, submissão e usufruto" em que se tornou o Congresso Nacional, pensado e instituído para ser a voz do povo.

O futuro ex-governador da Bahia, e futuro ministro do governo de Dilma Rousseff, Jaques Wagner, afirmou que a oposição se mantém "numa lógica destrutiva" ao defender o afastamento da presidente da Petrobras, Graça Foster, e de toda sua diretoria. Atropelando os princípios básicos de lógica, acrescenta: "Acho que é preciso que as pessoas tenham mais parcimônia e cuidado com a coisa pública. Se o cuidado da coisa pública passa pela investigação do mau uso do dinheiro público, também passa por não enterrar uma empresa". 

Sabe-se que as investigações que revelaram o esquema de saque sistemático ao patrimônio da Petrobras, não foram promovidas pela atual direção. Ao contrário, essas últimas sempre concluíram que "todos os procedimentos corporativos e legais foram cumpridos e não foi detetada qualquer irregularidade"! 
É regra elementar de investigação, afastar os gerentes das áreas sob suspeitas, os quais ainda detém poder de interferência e intimidação junto aos demais empregados. 
E o "enterro" da empresa, reconhecidamente, não foi arquitetado pela oposição no Congresso! Parcimônia e cuidado com a coisa pública não parecem ter sido exigidos pelos partidos e governantes aos seus "gerentes de confiança".

Já os bem-aventurados ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa, que presidiu o julgamento do mensalão, o juiz Sergio Moro, que coordena com eficácia as investigações do petrolão - ambos nominados por Pedro Simon - assim como pessoas íntegras como o juiz Fausto Martin De Sanctis, perseguido e relegado no Judiciário por prender Daniel Dantas e gangsters de peso; o ex-delegado federal, investigador da Operação Satiagraha e deputado não reeleito, Protógenes Queiroz, perseguido, processado e demitido da Policia Federal; a ex-ministra do CNJ, Eliana Calmon, que denunciou os "bandidos de toga", lutou com unhas e dentes para manter o poder de investigação do Ministério Publico, conseguiu vitória no STF por diferença de apenas um voto, mas perdeu a eleição ao Senado; o engenheiro Gésio Rangel de Andrade**, gerente-geral das obras do Gasoduto Urucu-Manaus, removido do cargo após denunciar esquema de licitações e aditivos contratuais fraudulentos, negociados diretamente pelo ex-diretor de serviço da Petrobras, Renato Duque; a geóloga ex-gerente-executiva da Diretoria de Abastecimento da Petrobras, Venina Velosa da Fonseca, transferida e demitida após denunciar indícios de corrupção em contratos; e muitos outros, que fizeram e fazem de fato oposição ao atual sistema corrupto e corruptor, mesmo sofrendo massacres e todo tipo de ameaça, intimidação e retaliação. 

Esses bem-aventurados, sim, conseguiram mudar o panorama visto da ponte, há tempos, por todo cidadão lúcido, indignado com a esbórnia implantada nas instituições da Nova Republica pelos principais grupos ainda hoje no poder. 

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* Número atualizado em 17.12.14, após a aceitação integral pelo juiz Sérgio Moro, da 6ª denúncia feita pelo Ministério Público Federal. Alguém lembrou a saga de Ali Babá e os 40 ladrões? Tal como no processo do mensalão, está faltando "uns e umas" para que toda a quadrilha seja de fato investigada, indiciada e julgada. Por enquanto, inacreditavelmente, os suspeitos, responsáveis direto pelos áreas e órgãos afetados pelo esquema, com cândidas declarações de que nada sabiam e nem desconfiavam, continuam nos postos maquiando documentações, pistas, provas e "coordenando as investigações e auditorias de seus próprios atos".  Inacreditável !

**Gésio Andrade faleceu de ataque cardíaco em 2012. Sua esposa, Rosane França, ex-empregada da Petrobras, relatou o calvário do marido em entrevista à Folha Tribuna da Internet de 17.04.2014. Veja no endereço:  
http://tribunadainternet.br/?s=Gesio+Andrade >.

*** Veja entrevista do juiz Helio Telho Corrêa Filho, ao Jornal Opção, anunciando o próximo escândalo no BNDES, oito vezes maior que o valor de 78 bilhôes de reais do petrolão. Critica o atual sistema eleitoral que alimenta a corrupção partidária. http://www.jornalopcao.com.br/entrevistas/vamos-ter-um-escandalo-de-corrupcao-ainda-maior-que-o-da-petrobras-e-sera-no-bndes-23280/

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