Há mais de três meses tento elaborar um texto sobre o Sistema Político Brasileiro, onde os crimes de corrupção e de lesa-pátria vêm sendo institucionalizados há anos.
A tentativa revelou-se um trabalho árduo que até hoje não foi concretizado.
Entretanto, o colunista José Padilha de O GLOBO, publicou sob o título Mecanismo de Exploração da Sociedade Brasileira, uma análise resumindo em 27 itens como funciona o atual Sistema Político Brasileiro, comandado por extensa Organização Criminosa, que ele denomina de mecanismo.
Transcrevo o texto de José Padilha de O GLOBO.
01) Na base do sistema político brasileiro, opera um mecanismo de
exploração da sociedade por quadrilhas formadas por fornecedores do Estado e
grandes partidos políticos. (Em meu último artigo, intitulado Desobediência
Civil, descrevi como este mecanismo exploratório opera. Adiante, me refiro a
ele apenas como “o mecanismo”.)
02) O mecanismo opera em todas as esferas do setor público: no
Legislativo, no Executivo, no governo federal, nos estados e nos municípios.
03) No Executivo, ele opera via superfaturamento de obras e de serviços
prestados ao estado e às empresas estatais.
04) No Legislativo, ele opera via a formulação de legislações que dão
vantagens indevidas a grupos empresariais dispostos a pagar por elas.
05) O mecanismo existe à revelia da ideologia.
06) O mecanismo viabilizou a eleição de todos os governos brasileiros
desde a retomada das eleições diretas, sejam eles de esquerda ou de direita.
07) Foi o mecanismo quem manipulou as massas para eleger: o PMDB, o DEM,
o PSDB e o PT. Foi o mecanismo quem elegeu José Sarney, Fernando Collor de
Mello, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva,
Dilma Rousseff e Michel Temer.
08) No sistema político brasileiro, a ideologia está limitada pelo
mecanismo: ela pode balizar políticas públicas, mas somente quando estas
políticas não interferem com o funcionamento do mecanismo.
09) O mecanismo opera uma seleção: políticos que não aderem a ele têm
poucos recursos para fazer campanhas eleitorais e raramente são eleitos ou
re-eleitos.
10) A seleção operada pelo mecanismo é ética e moral: políticos que têm
valores incompatíveis com a corrupção tendem a ser eliminados do sistema
político brasileiro pelo mecanismo.
11) O mecanismo impõe uma barreira para a entrada de pessoas
inteligentes e honestas na política nacional, posto que as pessoas inteligentes
entendem como ele funciona e as pessoas honestas não o aceitam.
12) A grande maioria dos políticos brasileiros tem baixos padrões morais
e éticos. (Não se sabe se isto decorre do mecanismo, ou se o mecanismo decorre
disto. Sabe-se, todavia, que na vigência do mecanismo este sempre será o caso.)
13) A administração pública brasileira se constitui a partir de acordos
relativos a repartição dos recursos desviados pelo mecanismo.
14) Um político que chega ao poder pode fazer mudanças administrativas
no país, mas somente quando estas mudanças não colocam em xeque o funcionamento
do mecanismo.
15) Um político honesto que porventura chegue ao poder e tente fazer
mudanças administrativas e legais que vão contra o mecanismo terá contra ele a
maioria dos membros da sua classe.
16) A eficiência e a transparência estão em contradição com o mecanismo.
17) Resulta daí que na vigência do mecanismo o Estado brasileiro jamais
poderá ser eficiente no controle dos gastos públicos.
18) As políticas econômicas e as práticas administrativas que levam ao
crescimento econômico sustentável são, portanto, incompatíveis com o mecanismo,
que tende a gerar um estado cronicamente deficitário.
19) Embora o mecanismo não possa conviver com um Estado eficiente, ele
também não pode deixar o Estado falir. Se o Estado falir o mecanismo morre.
20) A combinação destes dois fatores faz com que a economia brasileira
tenha períodos de crescimento baixos, seguidos de crise fiscal, seguidos de
ajustes que visam conter os gastos públicos, seguidos de novos períodos de
crescimento baixo, seguidos de nova crise fiscal...
21) Como as leis são feitas por congressistas corruptos, e os
magistrados das cortes superiores são indicados por políticos eleitos pelo
mecanismo, é natural que tanto a lei quanto os magistrados das instâncias
superiores tendam a ser lenientes com a corrupção. (Pense no foro privilegiado.
Pense no fato de que apesar de mais de 500 parlamentares terem sido
investigados pelo STF desde 1998, a primeira condenação só tenha ocorrido em
2010.)
22) A operação Lava-Jato só foi possível por causa de uma conjunção
improvável de fatores: um governo extremamente incompetente e fragilizado
diante da derrocada econômica que causou, uma bobeada do parlamento que não
percebeu que a legislação que operacionalizou a delação premiada era
incompatível com o mecanismo, e o fato de que uma investigação potencialmente
explosiva caiu nas mãos de uma equipe de investigadores, procuradores e de
juízes, rígida, competente e com bastante sorte.
23) Não é certo que a Lava-Jato vai promover o desmonte do mecanismo. As
forças politicas e jurídicas contrárias são significativas.
24) O Brasil atual está sendo administrado por um grupo de políticos
especializados em operar o mecanismo, e que quer mantê-lo funcionando.
25) O desmonte definitivo do mecanismo é mais importante para o Brasil
do que a estabilidade econômica de curto prazo.
26) Sem forte mobilização popular, é improvável que a Lava-Jato promova
o desmonte do mecanismo.
27) Se o desmonte do mecanismo não decorrer da Lava-Jato, os políticos
vão alterar a lei, e o Brasil terá que conviver com o mecanismo por um longo
tempo."
O texto acima foi obtido do compartilhamento feito pelo procurador da República, Deltan Dallagnol, membro da força-tarefa da Lava-Jato, em busca do fundamental apoio dos cidadãos de bem para derrotar o mecanismo e os governantes criminosos que saqueiam o Brasil e infelicitam seu povo há décadas.
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