O Le Monde –
Diplomatique esmiúça a crise no Brasil”.
De fato,
trata-se de uma profunda e sofisticada análise das forças que governam a política
do país e que bem poderia ter por título “O poder invisível e seu exercício”.
Lembram as tais “forças ocultas” mencionadas por Jânio Quadro, no início dos anos 60.
Com as investigações da Lava Jato e similares esse esquema de domínio foi
revelado àqueles que mantêm a mente livre de mantras ideológicos e reto interesse pelos
destinos da Nação.
Eis, em 13
itens, essa precisa anatomia.
1. O foco do poder não está na política,
mas na economia. Quem comanda a sociedade e as instituições republicanas é o
complexo financeiro-empresarial com dimensões globais e conformações locais
específicas.
2. Os donos do poder não são os
políticos. Estes são apenas instrumento dos verdadeiros donos do poder.
3. O verdadeiro exercício do poder é
invisível. O que vemos, na verdade, é a construção planejada de uma narrativa
fantasiosa com aparência de realidade, para criar a sensação de participação
consciente e cidadã dos que se informam pelos meios de comunicação
tradicionais.
4. Os grandes meios de comunicação não
se constituem mais em órgãos de “imprensa”, ou seja, instituições autônomas,
cujo objeto é a notícia, e que podem ser independentes ou, eventualmente,
grandes conglomerados econômicos que também compõem o complexo financeiro-empresarial
que comanda o poder invisível. Portanto, participam do exercício invisível do
poder utilizando seus recursos de formação de consciência e opinião.
5. Os donos do poder não apoiam partidos
ou políticos específicos. Sua tática é apoiar quem lhes convém e destruir quem
lhes estorva. Isso muda de acordo com a conjuntura. O exercício real do poder
não tem partido e sua única ideologia é a supremacia do mercado e do lucro.
6. O complexo financeiro-empresarial global
pode apostar ora em Lula, ora em um político do PSDB, ora em Temer, ora em um
aventureiro qualquer da política. E pode destruir qualquer um desses de acordo com
sua conveniência.
7. Por isso, o exercício do poder no
campo subjetivo, responsabilidade da mídia corporativa, em um momento demoniza
Lula, em outro, Dilma, e logo depois Cunha, Temer, Aécio, etc. Tudo faz parte
de um grande jogo estratégico com cuidadosas análises das condições objetivas e
subjetivas da conjuntura.
8. O complexo financeiro-empresarial não
tem opção partidária, não este nenhuma camisa na política, nem defende pessoas.
Sua intenção é tornar as leis e a administração do país, totalmente favoráveis
às suas metas de maximização dos lucros.
9. Assim, os donos do poder não querem
um governo ou outro à toa: eles querem, na conjuntura atual, a reforma na
Previdência, o fim das Leis Trabalhistas, a manutenção do congelamento do
Orçamento Primário, os Cortes de Gastos Sociais para atender o serviço da Dívida
Pública, as Privatizações e o alívio dos tributos e encargos para os mais
ricos.
10. Se a conjuntura indicar que Temer não
é o melhor para isso, não hesitarão em rifá-lo. A única coisa que não querem é
que o Povo Brasileiro decida sobre o destino de seu País.
11. Portanto, cada notícia é um lance no jogo.
Cada escândalo é um movimento tático. Analisar a conjuntura não é ler notícia.
É especular sobre a estratégia que justifica cada moimento tático do complexo financeiro-empresarial
– do qual a mídia faz parte – para poder reagir também de maneira estratégica.
12. A queda de Temer pode ser uma coisa
boa. Mas é um movimento tático em uma estratégia mais ampla de quem comanda o
poder. O que realmente importa é o que virá depois.
13. Lembremo-nos: eles são mais espertos!!!
Por isso estão no poder.
Fonte: Le Monde – Diplomatique
Nenhum comentário:
Postar um comentário