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segunda-feira, 27 de abril de 2020

Bolsonaro versus Moro


Melhor do que um dia após o outro, é ter dois dias após os pronunciamentos do então ministro Sergio Moro (foto) e do presidente Bolsonaro, complementados por notícias pertinentes e de diálogos via celular divulgados como provas.

Num primeiro momento, Moro lê os motivos destacados em amarelo que o fizeram pedir demissão do superministério de Justiça e Segurança Pública, desenhado ao seu feitio. 

No segundo momento, Bolsonaro faz pronunciamento, em grande parte de improviso, com os motivos que o levaram a pedir a Moro a demissão do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Mauricio Valeixo.

Ambos são importantíssimos personagens da nossa  história recente. Ambos perseguidos pelas organizações criminosas que desejam continuar saqueando os recursos da Nação. 
E agora, José?

O tempo disponível na pandemia permitiu rever  a fala dos dois e as provas apresentadas por Moro, durante a sexta-quente (24/4).
Foram duas principais provas, ambas em prints com diálogos em aplicativo do celular de Moro: uma com a deputada federal Carla Zambelli (PSL/SP) e outra com o presidente Bolsonaro.

O de Carla Zambelli (foto) revela o enorme empenho dela em convencer seu padrinho de casamento a aceitar a demissão de Valeixo, diretor-geral da Polícia Federal (PF), prometendo se empenhar para convencer o presidente a indica-lo para o STF em setembro, em substituição ao ministro Celso de Mello que se aposenta compulsoriamente em novembro.

A conversa com Bolsonaro aparece por duas vezes Moro dizendo que conversaria com o presidente às 9 horas do dia seguinte. Nela o presidente cola a manchete do site O Antagonista de que oito deputados bolsonaristas serão investigados pela PF por suspeita de envolvimento na organização da manifestação do domingo anterior, em que apareciam faixas pedindo intervenção militar, fechamento do Congresso, do STF e AI-5 (?!), emitido em 13.12.1968 durante os governos militares restringindo liberdades democráticas. 

O presidente escreve “mais um motivo para a troca”, se referindo a Valeixo, cuja demissão sairia no DOU no dia seguinte, e que deve ter sido o assunto tratado nessa ligação, apesar de Moro dizer que tomou conhecimento pela imprensa. 
Há controvérsias. É improvável que Valeixo não tenha falado com Moro após a ligação do presidente perguntando se a demissão poderia ser “a pedido”.

Moro responde que o inquérito em manchete no O Antagonista é conduzido pelo ministro do STF Alexandre de Moraes: diligências, quebras e buscas são por ele determinadas.
E encerra a conversa reiterando: “Conversamos em seguida às 0900.”.
E agora José?

Não sabemos se essa conversa às 9 horas de Moro com Bolsonaro ocorreu. O mais provável é que não ocorreu, pois na manhã do dia 24, sexta-feira, a imprensa já estava informada de que o ministro Moro faria pronunciamento às 11 horas. 

Os torcedores do Quanto Pior Melhor - QPM, já contavam com a saída do ministro, menos o presidente que pela manhã postou nas redes “vocês da imprensa estão todos errados”, o que nos leva a pensar que ele acreditava que o pronunciamento de Moro seria para anunciar que a saída de Valeixo tinha sido acertada com o presidente. Ledo engano.

No silêncio da noite, a análise da situação pode ter despertado o instinto de preservação e o estrategista em Moro.

Moro, Joice e Maia
Em exercício analítico, imagino que ao encerrar a ligação com o presidente na noite anterior, o então ministro Moro sopesou a situação em que se encontrava ante um presidente atacado pelos presidentes da Câmara, do Senado, do STF, por deputados, senadores e ministros do STF, pelos líderes do Centrão, por antigos aliados da primeira hora como o governador de Goias, Ronaldo Caiado (DEM/GO), deputada Federal Joice Hasselmann (PSL/SP), os governadores Witzel do Rio, Dória de São Paulo... pode ter concluído ser Bolsonaro um presidente sem sustentação política, fragilizado e vulnerável, e considerou que era hora de tomar uma atitude mais de acordo com suas aspirações de se manter ídolo dos cidadãos de bem até as eleições de 2022, quando poderia ser um candidato quase imbatível. Quase, porque Bolsonaro já se revelou bom de voto.
Pode ter percebido a necessidade de reduzir as chances de Bolsonaro. 
Vejo isso como a mais forte motivação para Moro sair atirando daquele jeito.

Em seu pronunciamento de 40 minutos, Sergio Moro deu um panorama do contexto atual, para depois entrar na denúncia de tentativas do presidente em interferir na PF, em inquéritos envolvendo parentes do presidente, que teriam sido rechaçadas pelo ministro.

As denúncias, do modo como foram relatadas por Moro, têm fortes características de vingança, pelas várias situações desconfortáveis por qual passou, e o objetivo de deslanchar um impeachment que tiraria Bolsonaro das eleições de 2020... 

Ao final, Moro disse que saía para preservar sua biografia, defender a independência da PF... E que iria escrever sua carta de demissão e procurar emprego. E sorriu.

Durante a sexta-quente (24/4) foram protocolados vários pedidos de impeachment que se somarão aos que aguardam hora oportuna por parte do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e aos de muitos outros interessados em remover Bolsonaro do panorama nacional, sendo que alguns se contentam apenas em retirar dele prerrogativas do cargo.

Logo após o pronunciamento de Moro o presidente Bolsonaro  divulgou nas redes que faria pronunciamento às 17 horas, para “restabelecer a verdade.”

No pronunciamento, feito com o ministério perfilado atrás, o presidente falou inicialmente de improviso suas queixas junto a Moro por não ter tido empenho em investigar o atentado em Juiz de Fora, os assassinatos de Marielle e Anderson e das tentativas de envolver ele e familiares no crime. 
Disse que foi preciso “implorar” para que a PF ouvisse um dos acusados do crime, preso em Mossoró-RN, o que foi feito e esclarecido que seu filho não podia ter namorado a filha dele por ela morar nos EUA.
E que foi preciso um dos filhos dele (04) ir até a portaria condomínio na Barra, copiar a gravação do dia e hora da entrada do comparsa e constatar que a voz que autorizou não era a do porteiro que declarou em três depoimentos ter a autorização do Seu Jair, que provou estar em Brasília na ocasião. A voz era de outro porteiro! 
É incrível! Durante um ano e meio, essa prova esteve disponível sem que a Polícia Civil do Rio a tivesse considerado. Em todo esse tempo, a mídia desmamada tentava incluir Bolsonaro na cena do crime contra a vereadora e seu motorista.

Por essa e outras, a procuradora-geral Raquel Dodge à época pediu a federalização das investigações, o que não foi feito até hoje por motivos pífios. Houve reações do deputado federal Marcelo Freixo (PSOL/RJ) que junto com as famílias de Marielle e Anderson pediram na Justiça que isso não fosse feito. Pode o cidadão escolher órgão de investigação preferido para investigar crimes? O fato é que até hoje a PF não entrou na investigação.

Outra queixa do presidente foi quanto à ausência de relatórios de inteligência por parte da PF que em sua avaliação, com Moro perdeu em termos de dados de inteligência. É estranho o presidente não ter um relatório de inteligência da PF. Imagino a paciência do presidente em conviver com a falta de informações, recomendações preventivas e de contingenciamento.

Quanto à escolha do novo diretor-geral da PF, Bolsonaro disse que Moro só aceitava o indicado por ele. "Por que só o seu e não o meu? Propomos os nomes, façamos um sorteio." Diz que Moro não aceitou. Alegou que recebera o ministério com carta branca, que o trato não estava sendo cumprido. Bolsonaro falou que dá autonomia a todos os seus ministros, mas ele mantém o poder de veto. 
Esclareceu, com um jogo de palavras, que autonomia não significa soberania. 
Disse ter insistido muito para que Ilona Szabó, nomeada por Moro, fosse demitida, visto ela ser defensora do aborto, quando a defesa da vida foi  promessa de campanha dele. Que se Moro saiu para defender sua biografia, ele fica para defender o Brasil.

Na continuação do improviso, Bolsonaro desferiu a mas grave acusação. Disse que Moro concordou com a demissão de Valeixo, desde que fosse em novembro, após a sua indicação ao STF. Bolsonaro reagiu dizendo que não faz esse tipo de troca.
É muito forte, destrutiva. Não sei se Moro teria coragem de propor isso ao presidente. 
Essa vai ficar na conta do contra-ataque do disse-me-disse.

No Twiter Moro rebateu: "A permanência do Diretor Geral da PF, Maurício Valeixo, nunca foi utilizada como moeda de troca para minha nomeação para o STF. Aliás, se fosse esse o meu objetivo, teria concordado ontem com a substituição".
Disconcordo com essa argumentação ilógica, visto que a saída atrelada à indicação ao STF não foi aceita por Bolsonaro. Em sendo assim, mesmo que Moro concordasse com a saída não teria assegurada a indicação ao STF.

Creio que o principal motivo do descontentamento de Moro com o presidente foi que um pensava no ministério com “porteira fechada”, como antigamente, e o outro pensava obter as condições para melhor governar o país de acordo com as promessas de campanha.

Moro achando que Bolsonaro quebrou a promessa de total autonomia, e Bolsonaro achando que Moro não se empenhava em proteger o presidente e seus familiares.
Não chegaram a um acordo. 

É pena, ambos são pessoas provadas na exaustiva luta contra as organizações criminosas que estão fazendo de tudo para retornar ao poder, usando as mídias desmamadas para atingir Bolsonaro e a família, e que podem inclusive apoiar Moro como candidato em 2022.

Se as provas que Moro têm são as apresentadas na mídia, será difícil obter um processo de impeachment com alguma chance de resultar na saída do presidente, mesmo com o empenho massivo das mídias contrárias a Bolsonaro. Mídias de oposição sistemática e massiva como ocorre na Globosta e Falha de São Paulo.

O tempo esclarecerá quem tinha a melhor razão. 


* Última atualização em 27.04.20

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