O Brasil está mudando, graças à Internet. O mundo está. Não é mais eficaz a estratégia da grande imprensa de manipular as informações inconvenientes aos donos do pedaço. As informações migram com sua própria força através dos portais, redes, plataformas, e-mails...
O que não quer dizer que a mídia já esteja 100% na sua principal tarefa de buscar e divulgar a verdade dos fatos, num serviço fundamental para toda a comunidade, que, em último caso, fará seu melhor discernimento. Não é o que temos visto.
As agencias de verificação ou checagem já mostraram que são ferramentas de domínio de grupos político-econômicos. Verdadeiros ministérios da verdade, iguais aos imaginados por George Orwell no livro 1984.
Os casos de engodo orquestrado pelas indústrias de alimentos, com a cumplicidade dos supermercados, revelam que é preciso mudar para melhor. Cartelas de "dúzia" de ovos com dez unidades; embalagens padrões há tempos "memorizadas" pelos consumidores - cada vez mais apressados - também têm seus pesos "espertamente" reduzidos. Preços no sistema de código de barras se revelam maiores que os fixados na prateleira e outras safadezas enriquecem malandros de "alto nível", até então impunes em crimes cometidos contra o consumidor. A "publicidade" completa o tripé do golpe.
Desde que me entendo, o "novo" sabão-em-pó da propaganda, lava melhor, não estraga o tecido, não desbota as cores, não precisa esfregar muito, etc. e etc. Isso quer dizer que o produto anterior não era tão bom assim... Mas era apresentado como o melhor, o máximo!
E o creme dental, com "nova composição" cheia de letras prometendo, finalmente, o melhor sorriso! Afinal, as informações que invadem todos os nossos meios de comunicação, apresentam uma meia-verdade - enfocando os aspectos positivos da questão - ou apresentam uma meia-mentira, ao sonegar informações importantes? Quem são os responsáveis por isso? Como pode ser coibido esse tipo de crime contra a economia popular?
Lembro que durante a II Guerra Mundial os soldados aprenderam a recuperar o fio das preciosas lâminas de barbear, usando um copo e um pouco de água. Em um minuto estavam afiados, simultaneamente, os dois lados das conhecidas giletes.
Após a guerra (1945), os soldados voltaram para casa e continuaram a economizar em lâminas de barbear, a novidade se espalhou e as vendas devem ter diminuído bastante. E apareceram os aparelhos elétricos, que faziam propaganda no cinema.
Sempre tinha a cena do "mocinho", sem tempo a perder, ligar o aparelho e fazer barba sem precisar molhar o rosto, usar pincel, fazer espuma, etc.
Como recuperar as vendas e o lucro das fábricas de lâminas de barbear?
Vários novos modelos de aparelho foram fabricados, mas as lâminas mais usadas eram iguais às fabricadas há décadas.
Lançaram a lâmina embutida em plástico, o que é mais seguro, mas impede de reafiá-la para novo uso. Em vez de duas lâminas, trazia apenas uma, o que só poucos notaram.
Após duas décadas veio a sensação do barbeador com duas lâminas paralelas, descartável, as mesmas que tínhamos no início e que nos tiraram com muita embromação publicitária.
No ano de 1999, após pesquisas de milhões de dólares, lançaram o barbeador com três lâminas... Aguardei chegar ao Brasil barbeador com quatro. Não chegou, mas obtive um de cinco lâminas paralelas (foto). Um verdadeiro mambo jambo em propaganda: a primeira faz tcham, a segunda faz tchum, a terceira faz... Chega, antes de dar em besteira!
A boa propaganda envolve algo de surpreendente, mágico, hipnótico, cativante, irresistível.
A cada "lançamento", me vem a sensação de que fui enganado ao comprar o produto anterior.
Quando conseguirmos parar um pouco e observar a força da informação massiva - que os mais atualizados chamam de marketing - perceberemos o quanto a ética é desprezada.
Os exemplos estão aí. O candidato é vendido como honesto, interessado pelos problemas que afligem o povo... Sinal que as eleições vêm por aí.
O produto transgênico é propagandeado como a salvação da humanidade... Mas os produtores resistem em informar suas origens nos rótulos.
A nova bateria de carro, ‘selada’, lacrada, deve ser trocada quando o visor passar de verde para preto, isto é: quando por evaporação baixar o nível da solução, após uns 2 anos. O que não é dito, é que a capa de plástico da "selagem", ao ser removida, deixa à mostra as tampinhas das células que podem ser completadas com água destilada e... Eureca, a bateria volta a funcionar por mais tempo, normalmente, como antes!
O pneu tem garantia de longa quilometragem, detalhada em um termo impresso que não informa que para fazer jus a essa garantia, em caso de dano por falha de fabricação, o usuário não pode recuperá-lo por vulcanização, mesmo que o dano ocorra no dia seguinte à compra. Tem que arranjar um estepe ou rodar sem estepe até a loja da venda.
O banco que investe forte em propaganda cobra taxa de manutenção de milhões de contas-benefícios do INSS e de contas-salários, onde a única operação feita é de retirada, mesmo conhecendo a resolução do Banco Central isentando esse tipo de conta/movimentação de qualquer cobrança de taxas.
A esperteza dos produtos light induz o consumidor a comprar mais e pagar mais caro por menos, por um produto diluído ou “desnutrido”, como no caso do leite em pó.
Quantos aos cigarros de baixos-teores de nicotina, o dependente precisa fumar mais para obter a concentração de saciedade no sangue.
E por aí vai... Tudo com muito marketing. É a ética "específica", só pra sair bem na foto.
Quando há interesse, são mencionados "os mais famosos laboratórios de pesquisas" - geralmente dos estados de Massachusetts, Connecticut, Ohio ou raio-que-os-parta - onde são produzidas notícias consideradas a mais pura verdade, "comprovadas cientificamente".
Assim, passamos a tomar vitamina C, até onde o estômago suportar, pois foi "descoberto" que evitaria o câncer. O "descobridor", químico quântico norte-americano Linus Pauling (foto), duas vezes Prêmio Nobel, defendia o consumo diário de 6 a 18 gramas, antes de morrer de câncer aos 93 anos - o que fica o dito pelo não dito - como apontam recentes pesquisas in vitro, na Pensilvânia. Os laboratórios fabricantes melhoraram as suas saúdes financeira.
Fazemos todo tipo de dieta propalada pela mídia "ixpessializada" como sendo a definitiva. Passamos a tomar dois copos de vinho após as refeições, pois pesquisas confirmam que faz muito bem... Aos vinhateiros, pois suco de uva natural faz o mesmo efeito e o açaí da Amazônia faz melhor ainda, por ter maior concentração do antioxidante antocianina. Só não tem o apelo etílico do vinho tinto. Há também a frase que endossa a venda de todos os produtos ditos naturais: "Não faz mal, é natural!" Urtiga e veneno de cobra também é!
Os planos de venda evitam informar claramente o que estão ofertando. Informam o número de prestações, ressaltam o pequeno valor, mas o valor da entrada está ilegível nas letras microscópicas no rodapé. Há ainda o desrespeito à inteligência do consumidor nas frases-feitas, usadas para apressá-lo a comprar. Últimas unidades! Venha logo antes que acabe! Só neste fim-de-semana! Vagas limitadas! Só falta você!
Vejo que não têm a mesma divulgação e marketing, a maravilha que é tomar um copo d'água pura, fresquinha, em vez dos detergentes gaseificados. O quanto é gostoso respirar ar puro, em vez de comprometer os pulmões com fumaça tóxica de alcatrão e nicotina, vendidos no "fino que satisfaz", para os "homens de decisão". Não é dito que o intrépido vaqueiro foi enterrado mais cedo na "terra de Mallagouro", derrubado por um câncer.
Também não há muita divulgação para as pessoas apreciarem o pôr-do-sol, a brisa da noite, o silêncio da madrugada, a paz de um simples Natal e a felicidade de um de fim-de-ano longe do consumismo estressante... Por que será?
Não custa nada entender o porquê, basta atentar sobre o interesse que há por trás das propagandas e questionar: "O que o interessado quer que eu saiba?"
Enquanto as regras e leis forem feitas só para os outros, continuaremos falando em ética na propaganda, ética na política, ética na medicina, ética na justiça, etc., como se fosse um acessório a ser usado eventualmente para evitar recriminações e punições.
Códigos de Ética são feitos à imagem e semelhança dos autores... Até os bandidos têm!
É a reconhecida ética-de-vitrine, feita para iludir o público. Nela são utilizados belos discurso, empolgantes constituições cidadãs, investigações rigorosas, propagandas enganosas, diretrizes, programas e planos destinados a ficarem só no papel.
Considerando o prefixo es como ex, podemos dizer que a estética é a harmonia visual externa, E a ética a harmonia social interna.
Agir com Ética - com E maiúsculo - é o desafio existente em toda atividade humana. Como a civilização não é vista em sua totalidade, fica parecendo que em algumas ocasiões e em determinadas áreas é preciso agir dentro da ética. Já em outras, nem tanto. Enquanto ela não fizer parte do nosso modelo educacional e integrada à nossa cultura, continuaremos - de vez em quando - a nos sentir obrigados a agir dentro da ética.