José
Renato M. de Almeida
O
ser vivo em geral - e o ser humano em particular - tem uma curiosidade inata
infinita e sempre buscará respostas além do já conhecido.
Volta e meia uma nova geração de pensadores
faz esse questionamento: teologia é conhecimento, é ciência? Conhecimento é o
que já se sabe ou, pelo menos, acredita-se que sabe o suficiente. Intuímos que
ainda sabemos pouco, porém, o que conhecemos tem tratamentos diversos,
de acordo com o enfoque e o método.
Os povos têm experiências que se incorporam às culturas sem serem 'acreditadas' pela comunidade científica. Há, entretanto, alguns conceitos e proposições, sem provas ou demonstrações, chamados axiomas (como acontece na geometria euclidiana), que são pacificamente aceitos como verdadeiros por todos! Desse modo, reconhecemos ou desconfiamos que o pajé ameríndio retém conhecimentos práticos para o tratamento de alguns males. É um conhecimento, mas não é considerado ciência. Os laboratórios mais ricos, espertamente, pesquisam as terapias indígenas e já utilizam diversas substâncias fitoterápicas traduzidas em linguagem e lucros científicos.
A Ciência, a Filosofia e a Teologia, cada uma a seu modo, buscam o conhecimento
pleno. Elas foram geradas durante a busca de entendimento do Ser, do Todo, do
Divino. Esse, digamos, Desconhecido, já era percebido há milênios por sábios de
praticamente todas as raças e culturas, que O registraram em livros ditos
sagrados. Os mais difundidos no ocidente são: o Gêneses, para o caso do macro
e, para o micro, o atomismo de Demócrito (460 a.C.). A teoria do Universo em
expansão - apelidada de big-bang - foi apresentada por um estudioso de
Teologia, o abade-astrônomo Georges Lamâitre (1894) e está bem de acordo com o
milenar 'Faça-se a luz!', da época em que a Ciência, com 'C' maiúsculo era,
fundamentalmente, a busca do Ser. A tese do big-bang foi retomada, dentro dos
padrões científicos modernos, por George Gamow, em 1948.
Os povos têm experiências que se incorporam às culturas sem serem 'acreditadas' pela comunidade científica. Há, entretanto, alguns conceitos e proposições, sem provas ou demonstrações, chamados axiomas (como acontece na geometria euclidiana), que são pacificamente aceitos como verdadeiros por todos! Desse modo, reconhecemos ou desconfiamos que o pajé ameríndio retém conhecimentos práticos para o tratamento de alguns males. É um conhecimento, mas não é considerado ciência. Os laboratórios mais ricos, espertamente, pesquisam as terapias indígenas e já utilizam diversas substâncias fitoterápicas traduzidas em linguagem e lucros científicos.
Via Lactea - Galáxia que habitamos, todas as estrelas que vemos à noite, estão nesse pequeno círculo amarelo. |
Esse conhecimento inconsciente é relegado aos poetas que, como diz a cantiga, 'é quem sonha o que vai ser real'. Esquecemos, entretanto, que: a Tabela Periódica dos Elementos Químicos, incluindo alguns ainda desconhecidos na época; a previsão de as grandes massas alterarem a trajetória da luz; e a intenção científica de decifrar a estrutura básica do Universo através do Modelo-Padrão ou da Teoria das Cordas, também fazem parte desse tipo de crença.
O ser humano para superar seus medos quer conhecer todos os mistérios. Torna-se, desse modo, empreendedor e místico. Essa última palavra, porém, já está contaminada com outros significados. Quando Einstein (1879-1955) rebate o Princípio da Incerteza, de Heisenberg (1901-19760), na mecânica quântica, e profere a conhecida frase 'Deus não joga dados', revela sua religiosidade, está sendo místico. Isso não o impediu de estruturar as Teorias da Relatividade e, com todas a suas dúvidas e erros, tornar-se um dos mais conhecidos gênios do séc. XX. Ele comenta a religiosidade do homem sábio no livro Como vejo o mundo - Alberto Einstein p.23, Nova Fronteira: "O espírito científico, fortemente armado com seu método, não existe sem a religiosidade cósmica. [...] Indubitavelmente, este sentimento se compara àquele que animou os espíritos criadores religiosos em todos os tempos."
Mas, até à comprovação, o crente é rotulado de tolo. Mais tolo será aquele que, ante o que não conhece ainda, mantém atitudes de soberba e ironia, em vez de respeitosa atenção. Seja ele um religioso, em relação à Ciência, e/ou um cientista, em relação à Teologia.
Os filósofos denominados de pré-socráticos, como Parmênides e Heráclito, dissiparam as divindades gregas e introduziram o monoteísmo intelectual do Ser - o physis, o fundamento, aquilo que é - deixando os deuses tradicionais aos populares. Vários séculos depois, de modo semelhante, Nietzsche proclama que o Ser, de tanto manipulado pelos poderosos, transformou-se em um deus de mentirinha, usado para amedrontar e manter sob jugo os povos... Esse deus, morreu! Agora, o homem precisa aspirar e conhecer suas próprias dimensões, superar seus medos e fraquezas, exercitar a emoção, inteligência e decisão; transformar-se em um homem liberto, plenamente humano, e assim, conhecer a Verdade, o Ser, o Tudo, o verdadeiro Deus já esquecido. Esse novo homem sonhado pelo filósofo, e denominado por ele de além-homem e traduzido por muitos como super-homem, teria, creio eu, características mais próximas do aparentemente frágil Gandhi, do que as do repórter do Planeta Diário dos gibis que, para exercer seus poderes inatos, veste uma sunga sobre a malha de balé!
Gandhi tinha o poder imaterial do homem sábio e verdadeiro, com ele uniu os povos da Índia e derrotou o poderoso império britânico. Combater o bom combate requer especial lucidez. Creio que, se Nietzsche o conhecesse poderia considerá-lo como o seu esperado além-homem... Ou talvez, o segundo cristão.
O ser vivo, em geral - e o ser humano em particular - tem uma curiosidade inata infinita, e sempre buscará respostas além do já conhecido. E quando se imaginava que tudo era sabido no século XIX, vem a Teoria da Relatividade, a Física Quântica, a fissão do átomo, as bombas atômicas, de hidrogênio, de neutrons, a Teoria das Cordas, os buracos negros, a energia escura, o DNA... E, finalmente, alcançamos o séc. XX com mais dúvidas que certezas, trazendo ao ser humano desafios muito maiores.
* Artigo veiculado no site do Jornal da Ciência on-line de
01.09.2002 http://200.177.98.79/jcemail/Detalhe.jsp?id=4526&JCemail=2111&JCdata=2002-09-03
** As idéias não têm dono, mas têm autoria!
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