Enquanto os cidadãos brasileiros são confundidos com as movimentações erráticas do governo Temer, a Organização Criminosa avança contra a Lava Jato e tudo o mais que possa resultar na prisão dos seus membros e no sequestro dos bens adquiridos com a corrupção.
Para barrar essa crescente indignação contra a corrupção endêmica implantada por esses criminosos, estão sendo utilizadas as estratégias constantes nos manuais de comunicação e mobilização de Gramsci, Lenin, Trotsky, Goebbels, Stalin, sem que a maioria das pessoas percebam.
Lançar nas mídias mentiras, ameaças, discursos absurdos, inconsistentes e acusar os adversários de cometerem os crimes que estão cometendo, faz parte. Enquanto os adversários se ocupam em desmentir, refutar, argumentar e provar que não são eles os criminosos, não têm tempo para expandir as provas e informações sobre outros crimes em andamento.
Há dois meses, está em execução o "acordão" fechado entre os principais partidos políticos (PMDB, PT, PSDB, DEM, PCdoB, PP, PR, REDE...), para estancar as investigações da Lava Jato e das demais operações que estão conseguindo punir criminosos instalados nos mais altos postos dos três poderes da República.
A gravação de Sérgio Machado com Romero Jucá, presidente do PMDB, revela o as entranha do Acordão:
MACHADO – Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo após decisões de segunda instância], vai todo mundo delatar.
JUCÁ – Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e a Odebrecht vão fazer.
MACHADO – Odebrecht vai fazer.
JUCÁ – Seletiva, mas vai fazer.
MACHADO – Queiroz [Galvão] não sei se vai fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que… O Janot [procurador-geral da República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho. […]
JUCÁ – Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. […] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra… Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria. […]
MACHADO – Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].
JUCÁ – Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
MACHADO – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
JUCÁ – Com o Supremo, com tudo.
MACHADO – Com tudo, aí parava tudo.
JUCÁ – É. Delimitava onde está, pronto.
Veja algumas providências e atitudes tomadas pelos quadrilheiros, para estancar as investigações na Lava Jato e nas demais operações:
1. Impeachment de Dilma Rousseff (PT), com "fatiamento" à moda Lewandowski da punição única, que a permitirá ocupar cargos públicos e, com pequenos "ajustes" adicionais, concorrer às próximas eleições.
2. União dos políticos para aprovar medidas que darão suporte ao governo Temer no combate à inflação, com desenvolvimento e redução de desemprego.
3. Irrigar as contas dos políticos e de seus chefes e padrinhos, através de concessão de cargos, negociação da dívida dos Estados (PL-257), empréstimos especiais via BNDES, CAIXA, BB, e, claro, dinheiro vivo do caixa 2 entocado em algum lugar.
4. Atacar, acusar e desqualificar o trabalho realizado pelas forças-tarefas da Lava Jato e demais operações em andamento.
5. Manter as Cortes Supremas sobrecarregadas para impedir o andamento das ações contra os membros da Organização Criminosa. Inclui-se aqui a votação do recurso contra a chapa Dilma-Temer, por uso de caixa 2 na campanha de 2014, pendente há meses no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
6. Aprovar mudanças nas Leis que podem ameaçar a impunidade existente. Faz parte desse item o PLC- 241 e o "fatiamento" do Artigo 52, parágrafo único da Constituição Federal.
7. Deixar fora da pauta o projeto de lei com as 10 medidas contra a corrupção, a pedido do governo Temer (PMDB). Esse fato é denunciador por si mesmo
8. Manter no STF entendimento de prisão do réu só após trânsito em julgado.
9. Aprovar lei que anistia os políticos e partidos que cometeram o crime de lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e uso de propinas nas campanhas eleitorais. Isso foi tentado ontem na Câmara, não prosperou por reação veemente de deputados comprometidos com o País.
A mobilização da Organização Criminosa se estende também aos principais órgãos e instituições democráticas (Legislativo, Judiciário, Executivo), à imprensa dependente e às mídias sociais com violência velada ou explícita em batalha de vida ou morte.
Em evento da Associação Brasileira de Direito Tributário (Abradt) dia 16/9, em BH, o ministro Toffoli declarou:
O Judiciário exerce hoje o poder moderador das crises brasileiras que, antigamente, cabia às Forças Armadas. No entanto, não pode exagerar no seu ativismo, senão vai ter o mesmo desgaste dos militares. Se criminalizarem a política, passarem a achar que o sistema judicial vai moralizar a sociedade brasileira, batendo palmas para doidos dançarem, vamos cometer o mesmo erro que os militares cometeram em 1964 ao assumir o poder.¹ Se quisermos ser os protagonistas da sociedade, temos que refletir se desejamos fazer operações que têm 150 mandados de busca e apreensão em único dia, que têm sentenças aditivas. Isso leva a um totalitarismo do Judiciário. Isso é democracia? Isso é Estado Democrático de Direito?
Toffoli recorre à tese de que há um complô de perseguição para "criminalizar a política", quando o que ocorre atualmente é criminalizar - e punir - aqueles políticos que cometeram crimes de lesa-pátria que ficariam impunes, se não houvesse conscientização do povo contra os quadrilheiros dos partidos políticos.
As informações obtidas até agora, pelo MPF, PF e Justiça, já são suficientes para prever que muitos dos que aí estão posando de democratas e defensores do povo serão presos, multados pelos danos causados e terão seus bens confiscados até o valor roubado, durante todos esses anos de impunidade.
Um dos principais operadores do Acordão, o presidente do Senado Renan Calheiros do PMDB, vem fazendo comentários desqualificando os procuradores do MPF, que denunciaram Lula, Letícia, Okamoto e outros. Com cerca de seis processos no STF, Renan trabalha no acordão em defesa própria.
Em situação semelhante, há poucos anos, Renan renunciou o mandato para manter os direitos políticos. Isso permitiu ser eleito, voltar à presidência do Senado e a praticar os mesmos crimes, com a desenvoltura de sempre.
Também seria beneficiado com o acordão o atual ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB), que na delação premiada de Marcelo Odebrecht, foi acusado de receber R$ 23 milhões em contribuições na campanha de 2010 — parte no Brasil, parte em contas no Exterior.
Outro interessado em “chegar à outra margem” ´é o senador Aécio Neves (PSDB), sob investigação por causa do esquema de propinas em Furnas e suspeito de interferir nas investigações do mensalão petista, com o objetivo de poupar aliados. Aécio pode ser delatado por executivos da OAS por receber, através de Oswaldo Borges da Costa Filho, propina de 3% na parte da Cidade Administrativa que coube à empreiteira construir.
O acordão em Brasília beneficiaria especialmente o PMDB: executivos da Odebrecht podem delatar repasse de R$ 10 milhões - a pedido de Michel Temer - na campanha de 2014. Uma acusação formal contra ele pode por abaixo todo o governo
Pelo menos uma denúncia de acordão, foi feita por ex-integrante do governo Temer, Fábio Medina Osório, defenestrado da Advocacia Geral da União (AGU). Quando ainda estava sendo fritado por boatos sobre sua demissão, ele resumiu: “É uma série de ataques que estamos sofrendo. Coincidentemente, logo agora, após havermos ajuizado ações bilionárias contra uma série de empreiteiras, no montante de R$ 12 bilhões para recuperar ativos dos cofres públicos. E no momento em que estamos reforçando a equipe da AGU para combater a corrupção, na Operação Lava Jato”.
Não vamos deixar os criminosos agirem impunemente no Brasil.
Notas:
1. Veja mais no link http://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/09/o-que-esta-por-tras-do-acordo-para-acabar-com-a-lava-jato.html
2. Veja mais no link http://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/09/o-que-esta-por-tras-do-acordo-para-acabar-com-a-lava-jato.html
* Texto veiculado em 23.9.16 no site MIGALHAS < http://www.migalhas.com.br/Leitores/245879 > sob o título "Governo Temer".